Conflito entre Israel e Irã pressiona a economia brasileira: inflação, combustíveis e dólar em alerta

Conflito entre Israel e Irã pressiona a economia brasileira: inflação, combustíveis e dólar em alerta

A recente escalada militar entre Israel e Irã, que já provoca turbulências nos mercados internacionais, começa a lançar sombras preocupantes sobre a economia brasileira. O aumento das tensões no Oriente Médio, uma região historicamente sensível para o comércio global de petróleo, gera um efeito dominó que vai do preço dos combustíveis ao risco de alta prolongada na taxa de juros.

O Estreito de Ormuz: o novo epicentro da crise energética

No centro dessa crise está o Estreito de Ormuz, uma faixa de apenas 33 quilômetros de largura, mas que tem peso estratégico imensurável: por ali passa aproximadamente um quarto de todo o petróleo comercializado no mundo. Com as recentes ameaças do Irã de bloquear a passagem de navios, grandes empresas de transporte de combustíveis, como a Frontline, já anunciaram a suspensão de suas rotas na região.

Historicamente, o fechamento ou mesmo a ameaça de bloqueio desse corredor naval costuma disparar os preços internacionais do petróleo e provocar choques nas cadeias de abastecimento global.

Petróleo em disparada e os reflexos imediatos no Brasil

Na última sexta-feira (13/06), os mercados já reagiram: o barril do petróleo Brent saltou mais de 7% em um único dia, acumulando alta de 12,3% desde os primeiros sinais de conflito.

Para o Brasil, país que importa parte significativa dos combustíveis refinados e é altamente dependente da variação internacional do petróleo, o impacto é direto: aumento no preço da gasolina, óleo diesel e gás de cozinha. O efeito deve se espalhar por toda a cadeia produtiva, encarecendo o frete e pressionando os preços de alimentos, produtos industrializados e serviços.

“Estamos diante de um cenário que pode elevar a inflação de forma estrutural nos próximos meses”, alerta Renan Silva, economista do Ibmec Brasília.

Alta no frete e efeito dominó nos alimentos

O Brasil tem cerca de 65% de sua carga transportada por rodovias, o que aumenta a vulnerabilidade ao preço dos combustíveis. A elevação no custo do frete deve ser repassada ao consumidor final em forma de preços mais altos, principalmente nos alimentos da cesta básica.

Além disso, setores como indústria, comércio e agricultura sentirão os efeitos indiretos da crise, com aumento de custos operacionais.

Juros sob ameaça de permanência em patamares elevados

Com a inflação já operando acima da meta estipulada pelo Banco Central, o novo choque de preços pode forçar a autoridade monetária a adiar o início de um ciclo de queda da Selic. Isso significa juros altos por mais tempo, o que encarece o crédito e prejudica a recuperação econômica.

“O risco é que o Banco Central seja obrigado a manter a política monetária restritiva por mais tempo para evitar uma espiral inflacionária ainda maior”, explica Silva.

Efeito câmbio: dólar dispara e real perde força

Como de praxe em momentos de crise internacional, o dólar se fortalece diante de outras moedas. A busca global por ativos considerados mais seguros, como a moeda americana, gera um fluxo de saída de capitais de países emergentes, entre eles o Brasil.

Esse movimento tende a desvalorizar o real, agravando ainda mais o custo de produtos importados e reforçando a pressão inflacionária.

Histórico de choques de oferta: o que esperar?

O Brasil já enfrentou situações semelhantes em crises anteriores, como o ataque às refinarias da Arábia Saudita em 2019 e, mais recentemente, a Guerra da Ucrânia em 2022. Em ambas as ocasiões, o efeito foi imediato: disparada dos combustíveis, pressão sobre os alimentos e inflação em alta.

A diferença agora é que o Brasil enfrenta essa nova ameaça em um cenário fiscal delicado e com pouco espaço para manobras políticas ou subsídios como os adotados no passado.

Governo com poucas opções

Diante desse cenário, especialistas apontam que as alternativas do governo brasileiro são limitadas. A redução de impostos sobre combustíveis, como ocorreu em 2022, pode até ser uma saída de curto prazo, mas traria impactos fiscais relevantes e poderia comprometer ainda mais o equilíbrio das contas públicas.

Outra medida seria utilizar estoques estratégicos de petróleo, mas o Brasil tem reservas reduzidas para esse tipo de emergência.

Risco de escalada global

Por enquanto, o conflito permanece localizado entre Israel e Irã, mas o temor do mercado é de uma eventual entrada dos Estados Unidos ou de outras potências, o que agravaria ainda mais o quadro geopolítico e econômico.

“Estamos diante de um cenário de altíssimo risco geopolítico, com impactos econômicos globais. O Brasil, como economia emergente, é um dos mais vulneráveis a choques externos como esse”, conclui Renan Silva.


Fonte: Gazeta do Povo – Economia.

Administrativo RPN

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